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Quintal da Ana





A foto é velha de Ano Novo, mas a memória é sempre nova de Ano Velho...

As festas, para mim, eram todas uma coisa só, como um grande festival. Tudo começava na semana do Natal e só terminava bem depois do Ano Novo. Os cheiros que emanavam da cozinha anunciavam o início de tudo. Doces e salgados. Tortas e assados. Pavês e "pacumês" rsrsrsrs...

Sair para comprar as roupas de Natal e Ano Novo, desde sempre calcinhas e cuecas brancas e novas... pra trazer paz... eu definitivamente nunca entendi como a cor das roupas de baixo iam trazer paz para o mundo...

Ao longo do dia 24 a nossa galerinha ensaiava a versão própria da Sagrada Família, que nunca seria formalmente apresentada, mas e daí... o que a gente queria mesmo era fazer aquele furdunço com as cadeiras e cabos de vassouras transformados no jeguinho para a fuga de Maria pelo deserto... e acabava virando a nossa fuga, largando tudo espalhado na garagem.

Uma parada estratégica na cozinha para lamber os potes de massa de bolo e voltávamos cheios de energia para novas aventuras: Tentar descobrir o esconderijo dos presentes! A gente até achava, mas tinha que manter segredo para os menores que ainda não conheciam a verdadeira identidade do Papai Noel.

O fim do ano era época de pessego, ameixas e uvas, essenciais na cesta de frutas no centro da mesa. Muita gente ia chegando com seus pratos repletos de guloseimas natalinas. E o mais importante: A Bisa reclamando das uvas passas na farofa - "As peste doce que bota a farofa a perdê". Depois da chegada dos presentes todo mundo queria brincar, mas o cansaço e a pança cheia desmaiava a gente na madrugada.

No dia 25 quem não tinha dormido lá na casa da Vila Conceição, voltava para o almoço. E a festa seguia. E a gente subtraía toalhas, talheres e punhados das sobras da ceia pra fazer piqueniques no terreno ao lado.

O clima se estendia pela semana, a gente já começava a destruir o que tinha ganhado de presente, e ia seguindo no "sobrôdontê", no "sobrôdanteontê" e etc...

Dia 31, as comilanças reiniciavam, e os planos para dominar o terreno ao lado também... a gente tinha um Sentimento MST pelo terreno do vizinho...rsrsrs... o dono não estava nem aí, exceto pelo dia em que tentamos fazer churrasco de miojo e bife, causando um incêndio com a nossa "grelha" de galhos secos...mas essa história foi no meio do ano mesmo...

De noite, a queima de fogos e todos mundo contando, abraçando e cantando..."Hoje é um novo dia, de um novo tempo, que começou..." Fiquei bem frustrada quando entendi que era um jingle... Pra mim, esta era musica oficial do Ano Novo, assim como era Noite Feliz para o Natal...rsrsrs

No dia 01 era dia de churrasco!!! Hoje eu sou vegetariana, mas o rito entorno da churrasqueira sempre me animou, até hoje me traz a memória de todo mundo sorrindo e brincando. Este era o dia das piadas, das brejas dos adultos, dos comentários sobre as gafes do Natal...kkkk

Engraçado, este era o dia em que os adultos estavam mais próximos das crianças, mais do que no Natal, era tudo mais descontraído, sem protocolos e encenações. Eles assim como nós descansavam se preparavam para o ano que viria pela frente. Nesse dia a gente era igual.

Até porque nós, as crianças, também teríamos um ano cheio de compromissos, seriam muitas cabanas, histórias, jogos, brincadeiras e churrascos de miojo...


Feliz Ano Novo!

Que nesse ano, todos sejamos mais iguais.


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